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15/09/2015
O Brasil se transforma com sua juventude


Por Gabriel Medina

Linha Direta
Em 2015 completamos 10 anos das políticas de juventude, com a criação da SNJ, do Conselho Nacional de Juventude e do Projovem. Foi uma década de caminhadas vitoriosas, e conseguimos incluir o termo jovem na Constituição, consolidar as conferências de juventude e aprovar o estatuto da juventude que define os direitos dos jovens no país
Por Gabriel Medina 
 
Em 2015 ocorre a III Conferência Nacional de Juventude, uma ampla rodada de diálogo entre Governo Federal e as juventudes brasileiras, que abre a possibilidade para que estados e municípios façam o mesmo. Com satisfação já podemos falar que a mobilização é um sucesso. Centenas de conferências livres já realizadas e convocadas, e 500 cidades já fizeram suas Conferências, número que pode chegar a mil.
 
A ampla participação dos jovens nos anima, mas o importante é que nós da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) fizemos três apostas ousadas para que essa mobilização tenha uma qualidade diferente. Primeiro, a conferência se abriu para um diálogo concreto com as mobilizações juvenis pelas redes. 600 delegados (30% do total) serão eleitos por um app, sem que tenham que passar por filtros de etapas municipais, os quais por vezes privilegiam os jovens já organizados. Buscamos com isso construir uma metodologia nova de reconhecimento de uma forma de fazer política, muito comum entre os jovens, o uso das novas tecnologias para a construção de diálogos e ações.
 
Segundo, criamos a mostra MANIFESTA, na qual 250 jovens produtores de cultura e ciência serão selecionados para vir à III Conferência. Nosso objetivo é romper com a lógica de chamar artistas e cientistas já consagrados para abrilhantar o evento a fim de dar voz e espaço para os saberes e fazeres transformadores das nossas juventudes.
 
Terceiro, convocamos as/os jovens a mostrar as várias formas de transformar o Brasil. Queremos e precisamos reconhecer, enquanto Estado, o fazer prático das juventudes que já está mudando o país. Para isso, é urgente uma abertura de olhares e valores rumo às novas formas de fazer política da juventude. Sem dúvida, os jovens foram fundamentais para promover inúmeras transformações em nossa história, e democracia brasileira deve muito à juventude. Contudo, há algo de novo no ar, e também nas ruas!
 
As juventudes novamente protagonizaram as grandes mobilizações de junho de 2013, convocadas a partir da luta do passe livre e apimentadas pela indignação com a brutal repressão policial. O país ficou perplexo com aquela energia juvenil das “jornadas de junho”. A perplexidade vem da percepção de que as lutas que a juventude organizou no passado não são as mesmas de hoje e mais do que isso, as formas de fazer política se ampliaram, produzindo novas dinâmicas de mobilização e ação.
 
Junho de 2013 explicitou uma profunda crise de representação. As instituições, os governos em todos os níveis, os partidos de todas as ideologias, o congresso, enfim, todos foram duramente questionados. As formas tradicionais de participação foram incapazes de produzir conexões e sinergia com as multidões das ruas e das redes porque não é mais possível separar as redes e as ruas, o analógico do digital, as lutas das ruas são potencializadas pela rede e a rede interage permanentemente com as ruas. Estamos vivendo uma verdadeira transformação na produção da subjetividade e da sociabilidade juvenil, na capacidade de produção de conhecimento, na formação de redes, etc. São processos que geraram forte empoderamento da juventude na criação de ferramentas e instrumentos potentes de articulação e ativismo.
 
O Brasil também não é mais o mesmo depois de 13 anos do projeto popular de Lula e Dilma. As periferias foram ativadas, uma juventude pobre e negra acessou a universidade, as demandas e sonhos mudaram. As juventudes querem muito mais do que atingir as condições mínimas de sobrevivência. Querem acabar com as desigualdades, e querem mais liberdades. Querem viver e ser felizes! Por isso a juventude negra grita pelo direito à vida, contra o extermínio diário promovido pelo pelas polícias militares. Liberdades e felicidade com o direito à cidade - ao transporte de qualidade e gratuito - o direito à internet rápida, o direito a produzir e fortalecer suas linguagens e formas de comunicação, aos equipamentos culturais, a possibilidade de produzir cultura e ciência, de ter um trabalho onde se realize e a possibilidade de vivenciar o tempo livre com o exercício da sua sexualidade e o direito ao lazer.
 
O mais instigante e também o mais animador é que essa galera não tem esperado o estado responder às suas expectativas. É uma turma inventiva que tem criado suas próprias formas de realização. A literatura e a formação chegam por meio dos saraus das quebradas e o HIP HOP promove a consciência crítica e a indignação com as desigualdades, o funk tem estimulado a ocupação das ruas e promove os rolezinhos, a geração de renda vem sendo produzida com suas marcas e estratégias empreendedoras.
 
Emerge desse novo Brasil uma juventude negra, periférica, camponesa que questiona os padrões estéticos e éticos da sociedade. Gritam em alto em bom som que não querem ficar de fora da partilha da enorme riqueza do nosso país. São os cabelos crespos no lugar da chapinha, o smartphone no lugar do lampião, o blog no lugar do jornal e tantas outras mudanças que talvez a nossa intelectualidade só consiga reconhecer no futuro. Uma nova geração cheia de sonhos, preocupada com a transformação dos seus bairros, mais pragmática, mas ativa e cansada de grandes discursos que vendem uma transformação a longo prazo. Essa juventude não quer esperar a lentidão da burocracia estatal e quer com suas próprias mãos produzir as mudanças que almeja.
 
É por isso que convocamos essas inúmeras maneiras, formas, praticas inovadoras de mudar o Brasil para se somarem, se articularem em redes e com isso multiplicar em muito a capacidade de transformar o Brasil. Não pretendemos desresponsabilizar o Estado pela efetivação de direitos e pela execução de políticas públicas, mas sim mobilizar a disposição criativa da juventude para dizer que o nosso futuro é o hoje, a partir do aproveitamento das ações concretas já em curso, empreendendo mudanças e encontrando soluções para problemas cotidianos vividos por milhões de jovens do país, especialmente das periferias das cidades e do campo, que convivem com a pobreza, as negras e negros que se encontram com a violência policial diária.
 
Nossa proposta para a III Conferência é que os jovens nas variadas etapas preparatórias, especialmente nas municipais e livres, e também no app, se dediquem a propor alternativas para seus bairros, suas comunidades e vilas. Que o local seja o centro formulador das estratégias e que o comum seja o balizador ético das proposições, cabendo à III Conferência constituir-se como um grande mosaico desses fazeres, desses olhares e conectar isso a um projeto de país. É isso que vai capacitar a nós, da SNJ, a planejar as políticas de juventude nos próximos 10 anos (plano nacional de juventude e um sistema nacional de juventude) que reflitam a diversidade das juventudes brasileiras, nas suas muitas realidades territoriais desse país continental, nas suas muitas manifestações de valores e culturas e especialmente pelos seus fazeres concretos.
 
Em 2015 completamos 10 anos das políticas de juventude, com a criação da SNJ, do Conselho Nacional de Juventude e do Projovem. Foi uma década de caminhadas vitoriosas, e conseguimos incluir o termo jovem na Constituição, consolidar as conferências de juventude e aprovar o estatuto da juventude que define os direitos dos jovens no país. Os próximos dez anos serão ainda mais vitoriosos porque a caminhada será feita por toda essa juventude que já está transformando o Brasil. O governo federal tem muito a aprender com essa juventude e nossas ações devem estar à altura dos desejos de mudança e de uma agenda ousada, inovadora que poderá acelerar o curso do nosso projeto de mudança, pautado na justiça, na igualdade e na liberdade.
 
Gabriel Medina de Toledo Psicólogo por formação, foi presidente do Conselho Nacional de Juventude, o Conjuv, órgão ligado à Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República e coordenador Juventude, pasta da Secretária de Diretos Humanos da Prefeitura de São Paulo, atualmente é secretário nacional de juventude órgão ligado à secretaria geral da Presidência da República.
 



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