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08/03/2017
ELITE E CONTRA-ELITE.
Por Valdemar Pinho


Afinal, o que é “elite”? O termo tem sido usado indiscriminadamente neste momento de crise, com conotações antagônicas e pouca precisão. A partir do sec. 18 o termo “elite” passou a designar grupos sociais “superiores”, como unidades militares de alto desempenho e membros da nobreza. No final do sec. 19 e início do sec. 20 Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Robert Michels elaboraram a “Teoria das Elites”, uma concepção elitista em oposição às teorias da democracia liberal e marxistas. Para eles são utopias não realizáveis, tanto a democracia, “entendida como igualdade entre os indivíduos, soberania popular, governo da maioria...”, quanto a proposta socialista marxista, de construir uma sociedade sem explorados e exploradores. Classes sociais não existem e todas as sociedades estariam divididas em dois grupos, a maioria (a não elite) e a minoria que possui riqueza, poder, e outros atributos derivados disso (a elite). Isso seria inevitável, pois o grupo majoritário seria incapaz de tomar decisões e sempre seria tutelado por uma minoria. Mas só parte dessa minoria tem capacidade de elaborar propostas para a sociedade do ponto de vista dos interesses dela, e assumir o controle das grandes decisões políticas. Para Michels, o que define os membros da elite “são as qualidades segundo as quais conseguem submeter as massas ao seu poder”. Esta é que seria a elite de fato. Portanto, a maioria dos membros do estrato superior da sociedade, os capitalistas, faz parte da elite, mas não atua como elite.

Apesar da prioridade aos interesses da minoria, uma verdadeira elite deveria ter um projeto nacional de desenvolvimento para toda a sociedade e garantir atendimento mínimo às demandas da maioria. O que não ocorre com os que assumiram o poder após o golpe no Brasil que atendem apenas ao interesse de minorias da minoria. O que leva vários analistas a afirmar que atualmente no Brasil não existe elite verdadeira.

Em oposição à “Teoria das Elites” a esquerda defende que a sociedade é dividida em classes sociais determinadas pelas relações de produção do sistema capitalista. Dessas relações decorre a concentração da riqueza e do poder nas mãos de uma minoria, gerando iniquidades. Para superá-las a sociedade deve evoluir para uma organização em que a propriedade dos meios de produção seja comum, com o fim da sociedade de classes e do Estado, o que só seria possível com mudanças culturais profundas. É uma utopia com dificuldades teóricas e práticas para sua realização, e objeto de discussão entre concepções de esquerda sobre sua viabilidade histórica. Os fundamentos e propostas que viabilizariam essa sociedade utópica serão elaborados pela parcela dos trabalhadores que adquiriu a “consciência de classe”, e é capaz de compreender os determinantes sociais das iniquidades e sua superação. Esse grupo foi denominado “Intelectual Orgânico” por Gramsci.

Como vemos, tanto na concepção da Elite, quanto na do Intelectual Orgânico, é sempre uma “minoria de homens que assume, em qualquer espécie de sociedade humana, o controle do processo de tomada das grandes decisões políticas”. Resta saber a serviço do que e de quem estão a elite e a contra-elite em cada momento.

A formação desses grupos só é possível com amplo debate e democracia.


Pinho é médico - Ex-vice-prefeito de Botucatu




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