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03/02/2016
Doação de órgãos: um ato de amor ao próximo


No ano de 2015, o HCFMB teve 24 potenciais doadores

No ano de 2015, o HCFMB teve 24 potenciais doadores.
Desse total, apenas seis famílias autorizaram a doação
 
Dr. Laércio, Rosa e Valdeci, do OPO, tentam viabilizar a doação de órgãos Esperar todos os dias pelo telefonema salvador, avisando que você poderá receber o transplante e levar uma vida normal. Essa é a esperança de quem espera a doação de um órgão. Segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), o Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes realizados por ano, sendo mais de 90% pelo Sistema Público de Saúde. Ainda assim, as filas de pessoas que estão esperando transplante de órgãos cresceram nos últimos anos em todo o país. A entidade divulga que entre janeiro e setembro de 2015 foram realizados aproximadamente 5.891 transplantes de órgãos, sendo 4.870 provenientes de pessoas falecidas. Já de tecidos, foram realizados 25.860 transplantes que incluem córnea, ossos, valva cardíaca e pele. 
 
No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), o quadro é semelhante. O médico intensivista Laércio Martins De Stefano é coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO), entidade que tem como atribuição principal organizar a logística da procura de doadores de órgãos e tecidos nos hospitais localizados na sua área de atuação. É a equipe da OPO que conversa com os familiares dos pacientes com morte encefálica para viabilizar a doação de órgãos. Laércio esclarece que o número de doadores tem caído também na região de Botucatu. "Estou há poucos meses à frente da OPO, mas já posso dizer que já percebi muita resistência dos familiares até em falar sobre a doação, muito pela ideia de não violar o corpo. Mas as pessoas precisam entender que após o diagnóstico de morte encefálica, o paciente não tem a mínima chance de voltar à vida. Se a família recusa a doação de órgãos, deixa de ajudar muita gente", lamenta. Ele comenta que, por exemplo, quando o Hospital atende pessoas que têm morte violenta, é obrigado, por lei, a mandar o corpo para o IML e, após a análise da ‘causa mortis’, o legista tem que descartar os órgãos que poderiam salvar outras vidas.
 
Em 2015, o HCFMB teve 64 diagnósticos de pessoas com morte encefálica, com 24 potenciais doadores. Desse total, apenas seis famílias autorizaram a doação. O principal motivo para a recusa dos familiares é não saber a vontade do falecido em ser doador ou não. Laércio é enfático ao afirmar que esse é um ponto crucial para que a doação se efetive. "Expressar a vontade de ser doador é o primeiro passo para a doação acontecer. As pessoas precisam comentar com os familiares que querem ser doadoras. Muitas vezes, quando a equipe da OPO chega para fazer a entrevista e verificar a possibilidade da doação dos órgãos, os familiares falam que nunca haviam tocado nesse assunto com o/a falecido (a). Esse é um assunto que precisa ser abordado, pois fazer desse momento de despedida um ato de caridade e amor ao próximo é muito nobre", opina.
 
A pessoa só se torna uma doadora em potencial quando recebe o diagnóstico de morte cerebral. A Coordenadora de Enfermagem da OPO, Rosa Oliveira, esclarece que o diagnóstico é um procedimento obrigatório por lei, assim que o médico suspeita que a pessoa está nessa situação. "Após o primeiro exame clínico, se for confirmado o quadro de saúde do paciente, a Central de Transplante é notificada imediatamente. Se após todos os outros exames, ficar constatado definitivamente esse diagnóstico, a família é ajudada no momento do luto e tentamos viabilizar a doação dos órgãos. Claro que as pessoas podem recusar e nós respeitamos muito isso. Muitas pessoas falam em Deus nesse momento, usando a religião como pretexto para a não doação, mas praticamente todas as religiões são favoráveis à doação de órgãos. As pessoas têm o direito a escolher se doam ou não os órgãos do ente querido, e nós temos a obrigação de esclarecer como funciona esse processo para tornar mais fácil a decisão", afirma.
 
Conforme Laércio explica, o fluxo para atestar esse estado irreversível é muito cuidadoso e tem uma legislação rigorosa. Para chegar a esse diagnóstico os médicos são obrigados a fazer duas avaliações clínicas e um exame laboratorial. Somente quando os três exames são positivos para morte cerebral é que é cogitada a doação dos órgãos, pois nesse estado de saúde não existe a possibilidade de o paciente voltar a ter atividade cerebral.
 
"Quando desconfiamos de que o paciente está em quadro de morte cerebral, nós imediatamente comunicamos a família dessa suspeita e iniciamos o protocolo para atestar ou não esse estado. Confirmado o quadro, nós convocamos novamente a família para dar a notícia. Todo esse processo é documentado para a Secretaria de Transplantes. Muitas famílias questionam o fato de a pessoa estar com o coração batendo, ou ter sinais orgânicos, porém é um estado que não tem retorno. A atividade cerebral não existe mais, apesar de o corpo poder ser mantido pelas máquinas. A pessoa não está mais lá", enfatiza.
 
Segundo a ABTO, a morte encefálica é a definição legal de morte. É a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. Isso significa que, como resultado de severa agressão ou ferimento grave no cérebro, o sangue que vem do corpo e supre esse órgão é bloqueado e ele morre, diferentemente do coma, quando o paciente está medica e legalmente vivo e pode respirar quando o ventilador é removido e/ou ter atividade cerebral e fluxo sanguíneo no cérebro. 
 
Laércio deixa um apelo para a população: "Temos que pensar que um dia qualquer um de nós pode estar na fila por espera de um órgão. E só quem está nessa fila sabe como é angustiante, porque você tem que viver colado no seu telefone ou algum outro meio de comunicação, já que a qualquer momento pode chegar o aviso de que você tem que correr para o hospital porque chegou o seu órgão. Se nós dependemos da boa vontade alheia, também temos que ter boa vontade. Temos que nos colocar no lugar de quem precisa. É muito triste, por exemplo, ver os pacientes de hemodiálise, pessoas que passam o resto da vida dependentes de uma máquina, três vezes por semana fazendo o procedimento de filtragem do sangue, ou uma pessoa que precisa de um coração ou de um pulmão que tem muita falta de ar. Um único doador pode ajudar até oito pessoas. São várias pessoas ajudadas em um único ato de solidariedade", finaliza.
 
Assessoria/ 4toques comunicação



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