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18/11/2016
Fascismo:
Por Valdemar Pinho


A intolerância com as diferenças tem se exacerbado no mundo. O que explica esse fenômeno e quais as suas causas? Por que um grande número de pessoas adere a posições baseadas no ódio e na violência contra os que pensam e vivem de forma diferente? Podemos chamar essas posições e condutas de fascismo?

O “fascismo” e o “comunismo” foram duas correntes de pensamento que incendiaram a primeira metade do século XX, representados pelos regimes da Itália e Alemanha por um lado e União Soviética e China por outro. Ambos surgem em oposição ao liberalismo político e econômico, num contexto histórico bem definido, em que crises cíclicas do capitalismo causaram desemprego, caos econômico e duas guerras mundiais. São modelos opostos de resposta à realidade, que compartilharam alguns métodos na prática de suas idéias. No próximo artigo falo do comunismo.

O termo fascismo foi usado pela primeira vez na Itália baseado no “fascio” ou “fasces” em latim. Um feixe de varas unidas encimado por uma lâmina de machado, usado pelos magistrados da Roma imperial como símbolo do poder de “flagelar e decapitar cidadãos desobedientes”. Foi adotado pelo fascismo como representação da união de “todos os sadios” da nação sob direção da elite, para as transformações sociais propostas. Em oposição ao liberalismo econômico, o Estado deve controlar a economia e centralizar todo o planejamento de desenvolvimento, mas mantendo a propriedade privada nas mãos dos capitalistas que o apoiassem. A ditadura totalitária (controle de todos os aspectos da vida) seria a única forma de dirigir o país para seu futuro glorioso, pois a maioria da população é incapaz de saber o que é melhor para ela. Daí sua negação da democracia, eleições etc. O fascismo defendeu a superioridade de uma raça sobre as demais, propondo e executando “limpezas étnicas” para aprimorá-la, e abominou a mestiçagem como “contaminação do sangue da nação”. O nazismo na Alemanha exacerbou o conceito. As demais raças, “inferiores”, deveriam servir à raça pura. A superioridade masculina era inquestionável e as “condutas desviantes”, como a homossexualidade, eram combatidas com violência.

A imposição das suas idéias (as únicas verdadeiras) se fez através da propaganda e da violência, calando idéias contrárias, baseada na defesa da “ordem” como doutrina. Mesmo antes de chegar ao poder os partidos fascistas já atuavam através de milícias que espancavam e, se necessário, matavam os dissidentes. Os membros desses esquadrões acreditavam em tudo que viesse da propaganda oficial e agiam com a certeza de que estavam “limpando o mundo” de parasitas da sociedade e de portadores de idéias malévolas. Sempre havia um “inimigo público” a justificar a ditadura e a supressão dos direitos individuais e de participação popular. O “combate à corrupção” foi uma das justificativas que mais arregimentaram adeptos. Os resultados foram o holocausto dos judeus e o extermínio de comunistas, socialistas, ciganos e outros que ameaçavam suas certezas. Há alguma similaridade com posições atuais?

No entanto, o fascismo era um movimento populista, concedendo aos trabalhadores algumas melhorias que não tinham sido concedidas pelo capitalismo liberal. Com isso, foram regimes que utilizaram violência, propaganda e algumas concessões aos de baixo para conseguir o apoio da maioria da população.

Hoje vivemos uma das crises cíclicas do capitalismo. O desemprego de alguns e a sensação de perda das “classes médias”, a violência que atinge a todos, especialmente os mais pobres e a insegurança sobre o futuro fazem reviver o fascismo. Preconceitos e ódios que sempre existiram não têm mais medo de se explicitar. O racismo (acrescentando a populações regionais pobres), a misoginia, a homofobia, o combate ao “comunismo” e tudo mais que for diferente. O ódio cego. Pra onde vamos?

 

Pinho é médico. Ex-vice-prefeito de Botucatu
Artigo publicado no jornal Diário Botucatu (18/11/2016)




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